terça-feira, 23 de outubro de 2018

Sobre Política e Investimentos: Parte 3

Semelhanças e diferenças… 
Parte 3

Apresentados os candidatos, façamos agora uma breve análise dos possíveis impactos negativos e positivos com base no passado, presente, contexto e ambiente interno e internacional, seus capitais políticos e a até que ponto podemos confiar nos candidatos.

Riscos (pior cenário): Haddad

Com o isolamento do PT, seu capital político ficou comprometido. Além do mais, a necessidade de mudança por parte do povo já foi mostrada no congresso e no senado. O que poderá acontecer então caso Haddad vença as eleições? No pior cenário pode acontecer um novo impechment provocado (se isso acontecer, ao contrário do que já ouvi dizerem por aí, que a vice do Haddad assumiria, isso é totalmente impossível. Aconteceu com Temer porque ele tinha muita influência política, mas Manuela D’avila não teria como se manter nem um segundo a mais no poder pois não tem nem 10% do capital político que Temer tinha quando Dilma sofreu o impeachment), e dessa vez não precisa nem de pautas bombas, pois com a lei do teto dos gastos qualquer deslize e o próximo presidente vira mais uma Dilma Rousseff. No entanto, dada a grave situação fiscal do país e o aprendizado com os erros (alguns inclusive admitidos pelos rivais, como na entrevista que Tasso Jereissati deu em setembro deste ano), além da própria pele em risco dos deputados e senadores que certamente não gostariam de ficarem marcados por colapsar o Brasil, não acredito que ocorrerá novamente uma sabotagem por parte do congresso (até porque também, Haddad já mostrou ter um perfil bem diferente de Dilma na comunicação política, e já conquistou até admiradores de outros partidos que demonstraram respeito pelo seu trabalho, além do apoio externo que vem recebendo constantemente).

Riscos (pior cenário): Bolsonaro

Como citado durante a descrição do perfil do candidato do PSL, ele é uma pessoa que muda de ideia com certa frequência, perfil autoritário, é militar com simpatia declarada pela ditadura. O que podemos esperar de alguém com esse perfil caso as coisas não saiam como ele planejou? O risco de uma ditadura (caso os militares, cuja maioria certamente votou nele, decidam por apoiá-lo) ou de um golpe militar (o vice-presidente inclusive tem patente maior que a do capitão Bolsonaro e já demonstrou opiniões tanto e até mais polêmicas que o próprio candidato à presidência do PSL) não pode ser desprezado. No entanto, assim como no caso do candidato do PT, também não acredito que este cenário tenha mais de 50% de chances de acontecer, visto que o PSL conta com bastante deputados e muitos prováveis aliados para permitir que as decisões sejam tomadas de forma democrática, como se espera.

Potencial de Upside: Haddad

No mercado, o potencial de upside é quanto se espera que determinado ativo possa subir, ou seja, o retorno máximo esperado. Para o candidato petista este potencial é limitado pelos motivos já citados anteriormente. Ainda com o antipetismo para contornar, Haddad teria que mostrar bom traquejo político e trazer para seu lado o centrão. No entanto, não é algo impossível ou extremamente difícil conseguir, mas depende muito das novas alianças que serão formadas e a compatibilidade de ideias que o PT defende com as que a nova câmara adotará.

Potencial de Upside: Bolsonaro

Para Bolsonaro, basta o mínimo de traquejo político, de poder de convencimento para trazer a maioria para seu lado (o antipetismo se disseminou além do partido, e a própria esquerda também vem sofrendo ataques constantes). No entanto, o candidato do PSL já deu a entender que não irá trocar ministérios por alianças, e nem votos por emendas parlamentares. Caso ele realmente faça isso, o cenário muda, as chances de conseguir fazer um bom governo diminuem, e as chances do pior cenário para Bolsonaro aumentam. As perguntas que ficam são: Ele fará o que disse? O congresso mudou tanto a ponto de não trocar mais favores (dinheiro e poder por alianças e votos)? O que eu acho é que o congresso não mudou tanto assim a esse ponto, e que Bolsonaro negociará sim com os parlamentares (prefiro ser otimista).

Deixar o dinheiro em conta-corrente (ou Tesouro SELIC) ou aplicar em Bitcoin?

Após ler esse texto razoavelmente longo, a pergunta que fica a você leitor e eleitor que se deu ao trabalho de ler até o final é a seguinte: Imagine que você tem 20 anos e estamos em 1988. Você acaba de se formar, e conseguiu o primeiro emprego, o qual você manteve durante longos 30 anos até o dia de hoje (imagine que em média ganhou o equivalente de hoje a R$ 4.000,00 por mês). Durante esse tempo você abriu mão de muitas coisas na vida para economizar R$ 1.000,00 por mês, para aos 50 anos se aposentar (vamos esquecer a inflação por enquanto e considerar que você não investiu, apenas guardou debaixo do colchão o dinheiro). Hoje você teria R$ 360.000,00 para investir em algo que pudesse lhe garantir um futuro melhor (nem é taaanto dinheiro assim, mas já dá pra ter sonhos maiores do que a maioria das pessoas), e ser útil a seus futuros herdeiros. Mas existe um porém, só temos hoje as 3 seguintes opções (sendo que aquela que você escolher todo seu capital será aplicado nela): transferir o dinheiro para conta-corrente de um banco (afinal é mais seguro que seu colchão, pelo menos em teoria), deixar na renda fixa, ou aplicar em Bitcoin. Qual investimento você escolheria para depositar todo seu dinheiro, economizado com muito esforço durante longos 30 anos?
A meu ver, nossa situação hoje é semelhante a essa. Fazendo uma analogia com investimentos, votar em Fernando Haddad seria o equivalente a deixar todo seu dinheiro na conta-corrente do banco (no pior cenário) ou investir no Tesouro Selic (no melhor cenário), que atualmente está em seu menor patamar a 6,5%. Faço essa comparação devido ao caráter relativamente previsível do candidato petista, bem como por causa das dificuldades que poderá encontrar, mas acredito que consiga fazer o país andar nesse ritmo.

Já no caso de votar em Jair Bolsonaro seria o equivalente a aplicar todo seu dinheiro em Bitcoin. Muito volátil e imprevisível, as pessoas ainda estão tentando entender o potencial, os benefícios e as possíveis fraudes por trás. Se o cenário for favorável, pode dar muito certo, o país expandir com altas taxas de crescimento, pagar parte da dívida pública, gerar muitos empregos... Mas em compensação se o cenário for contrário, você não perde aos poucos para a inflação durante quatro anos como no caso do Haddad, você perde tudo o que conquistou durante 30 anos de uma vez só. E agora não estou mais falando dos R$ 360.000,00 mas sim da democracia e da estabilidade política e econômica que levamos tanto tempo para conquistar.

Em relação a investimentos, não existe certo ou errado, o que existe é risco (muito ou pouco arriscado). Não estou dizendo para votarem em Haddad ou Bolsonaro, quem decide seu portfólio é o próprio investidor e seu perfil de risco para se expor mais, ou menos, à possíveis perdas. A ideia desse artigo foi passar para o leitor uma visão de política e de investimentos, comparando e fazendo analogias entre elas para permitir que você entenda os assuntos em um ponto de vista diferenciado. Espero que você reflita sobre os pontos positivos e negativos apresentados ao longo do texto, e que tenha coerência no momento do voto. Não vote com a emoção, pense, reflita, analise e faça a melhor escolha com base em seus critérios, na sua visão dos candidatos e dos partidos, e por que não com base em critérios de risco e potencial de upside (como mostrado no artigo)? Espero ter ajudado, bom segundo turno e continuemos na torcida por um país melhor independente de quem vencer as eleições.

Algumas Referências

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