terça-feira, 23 de outubro de 2018

Sobre Política e Investimentos: Parte 2

Semelhanças e diferenças… 
Parte 2

Análise Política (para investir no melhor candidato a presidência: Haddad ou Bolsonaro?)

Feita esta rápida introdução sobre algumas das principais diferenças e semelhanças entre os mundos político e de investimentos, nos tópicos a seguir (Parte 2 e Parte 3) farei uma breve análise política com base em algumas técnicas de investimento onde entenderemos melhor o contexto (Parte 2), os riscos e os potenciais de cada candidato (Parte 3). E no fim, para efeito de comparação, faço uma analogia entre quais seriam os investimentos correspondentes a cada candidato (Parte 3).

Haddad: o cara certo no lugar errado

Excelente gestor (criou o ProUni, o PIBID, o SiSU, reformulou o FIES e o ENEM, triplicou o orçamento do ministério da educação na sua gestão entre 2006 e 2012, e conseguiu manter o caixa de R$ 2,5 bilhões na prefeitura de São Paulo em seu mandato de 2013 a 2016 onde o Brasil passou por aquela que muitos dizem ser a pior crise de nossa história. Nesses 4 anos por exemplo, o PIB do país encolheu 5%) e no mínimo um dos melhores ministros da educação que o país já teve. Assim apresento Fernando Haddad, bacharel em direito, mestre em economia e doutor em filosofia (currículo impecável, pois reúne as áreas de estudo que a meu ver tem mais impacto na administração pública). Além disso, até hoje não teve seu nome envolvido nos esquemas de corrupção do PT que tanto geraram a revolta que vemos e o antipetismo declarado abertamente por muitos (o próprio adversário, Jair Bolsonaro, ao tentar atingir o ex-prefeito de São Paulo referiu-se a ele apenas como “fantoche de corrupto”).

Assim, o que podemos falar para estragar a reputação de Haddad (homem de família, casado há mais de 30 anos, pai de um casal de filhos, professor de universidade)? “Dize-me como quem andas, e te direi quem és”. A meu ver, Haddad é o cara certo no lugar errado. Recentemente, até históricos rivais do PSDB (que rivaliza com o PT durante as últimas eleições desde os tempos de FHC) entregaram-lhe uma carta de “apoio e apreço” em um almoço para conversar sobre política e as recentes ondas de violência decorrentes da eleição (quem sabe não foi uma sondagem para futura candidatura, no partido que reúne uma ala intelectual socialista e outra ala mais elitista empresarial, que recentemente passa por renovação e debates internos intensos entre elas. O PT também possui uma ala intelectual socialista, mas com diferenças significativas, sendo a ala do PT mais prática e a do PSDB mais teórica).

Voltando às comparações entre empresas e partidos, comparo o candidato do PT a um excelente CEO, mas trabalhando em uma empresa com a reputação abalada. Diria que o partido se assemelha com a BRF (empresa que surgiu da fusão de duas gigantes do segmento de Carnes e Derivados: Perdigão e Sadia). Eram duas empresas relativamente grandes, que cresceram muito durante certo tempo, mas hoje está enfrentando muitos problemas relacionados à fraude, suborno, custos elevados, aumento de impostos em países clientes, entre muitos outros problemas. Assim, o PT, partido relativamente grande, conseguiu chegar ao poder e obteve excelentes resultados em oito anos de governo Lula (ciclo das commodities e contexto internacional também ajudaram bastante). Depois veio o governo Dilma (e com a “sorte” contrária, enfrentou períodos conturbados de mercado externo, com petróleo, minério de ferro e celulose negociados a preços muito abaixo do normal). Além do contexto externo, o contexto interno também não ajudou muito a ex-presidenta (pautas bombas e falta de articulação política / jogo de cintura que sobravam no ex-presidente Lula, agora eram escassos nos outros cinco anos e alguns meses de Dilma). Do céu ao inferno o PT chegou ao fundo do poço com os escândalos de corrupção e a gestão controversa de Dilma que resultou no impeachment (ou golpe para alguns). Agora, assim como Pedro Parente (atual CEO da BRF), Fernando Haddad tenta pegar o que sobrou depois da tempestade e reconstruir um partido que assumiu o poder com muita desconfiança, virou o jogo e ganhou muita credibilidade, e depois desandou até chegar naquilo que vemos hoje, uma entidade criticada fortemente e que muitos não suportam e não toleram a hipótese de quem sabe este partido assumir novamente o poder por mais quatro anos.

Bolsonaro: o cara errado no lugar certo

Militar da reserva, deputado federal durante 28 anos, divorciado, pai de quatro filhos e uma filha. Nos anos de deputado ficou conhecido por suas opiniões polêmicas, com uma visão populista de extrema-direita, tendo declarado simpatia a ditadura militar, que segundo ele não aconteceu (maioria dos historiadores discorda) e defendido práticas de tortura (inclusive, durante a votação do impechment de Dilma Rousseff homenageou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-Codi e acusado de comandar tortura durante o regime militar). Além das opiniões controversas, também esteve envolvido no suposto planejamento de explodir bombas de baixa potência em banheiros da Vila Militar, da Academia Militar dos Agulhas Negras, em protestos contra o baixo salário na época (foi absolvido pelo Supremo Tribunal Militar, após laudo da Polícia do Exército apontar provas documentais insuficientes. Mais tarde, foi confirmada pela Polícia Federal a caligrafia de Bolsonaro no esquema do plano de ataque à rede de abastecimento de água do Rio de Janeiro).

Sem dúvida, um homem polêmico e instável, diferente do perfil que estamos habituados a ver nos últimos anos (no segundo turno, como esperado, passou a ter um discurso mais inclinado ao centro do espectro político, assim como seu rival político Fernando Haddad). Mas então o que fazer para estragar a reputação de Bolsonaro? Nada!!! Ele é o candidato que soube, assim como Donald Trump, instigar na população o sentimento de mudança e revolta contra o status quo (o próprio PT também ajudou), ressaltar na sociedade o sentimento de revolta por parte da população mais conservadora do ponto de vista da “moral e bons costumes”, além de criar notícias falsas para manipular os eleitores (não estou acusando os candidatos exatamente, mas alguém o fez, ou seus aliados ou eles próprios). E como que uma estratégia que resultou na violência e na ira de alguns de seus eleitores e em mentiras contra seu adversário (o TSE já reconheceu e mandou retirar notícias falsas sobre o candidato do PT recentemente, mas aparentemente tarde demais visto que os resultados das mentiras já foram alcançados) está dando certo?

O antipetismo e o choque de cultura

A resposta, aparentemente se deve a 2 fatores principais: o antipetismo e o choque de cultura provocado pelas ideologias. O antipetismo surgiu da revolta com os escândalos de corrupção e da falta de humildade do partido em reconhecer alguns erros que cometeu principalmente durante a gestão de Dilma, que somados àqueles que sempre odiaram o PT, e ao movimento de direita jovem (a onda de incentivar o empreendedorismo e a meritocracia, de criticar os servidores públicos (como se todos fossem corruptos e recebessem altos salários) e as instituições públicas (os problemas existem, mas em boa parte dos casos é muito mais por questões técnicas/burocráticas que por falta de comprometimento como a maioria pensa)) resultaram no movimento anti PT. 

Já o choque de cultura provocado pelas ideologias é um fenômeno que está sendo estudado, e pelo que aparenta, ele tem provocado o apoio a líderes que falam aquilo que o senso comum diz, esquecendo o politicamente correto e voltando às raízes que estão entranhadas em nossa cultura, e que dificilmente serão removidas tão rapidamente quanto seus idealizadores gostariam. A cultura de um povo, achemos nós ela boa ou ruim, moral ou imoral, ou qualquer outro juízo de valor que possamos fazer, só muda com o tempo, depois de muito diálogo, muita educação, muito respeito. Se não for assim, na força, frente a frente, duas propostas distintas tendem a gerar conflitos muito maiores. Questões como preconceito racial (sempre existiu, e lá se vai mais de século da abolição no Brasil e continua existindo), preconceito de gênero (as mulheres e as pessoas que passaram por transformações físicas sofrem com isso provavelmente desde sempre), preconceito sexual (a história mostra que ele aparece e desaparece várias vezes, ora com a sociedade mais rígida e hora com ela mais liberal), entre muitos outros, tem que ser trabalhados nas escolas, no dia a dia da sociedade, no trabalho e em todos os lugares. O que ao meu ver não se deve fazer é impor a aceitação e o entendimento a uma cultura que não está preparada para isso. O que se pode fazer é incentivar o respeito e a discordância saudável, não precisamos pensar igual, podemos não entender determinadas coisas. O que não podemos é discriminar alguém porque essa pessoa é diferente daquilo que você (ou sua cultura, ou sua religião, ou sua ideologia) acredita que ela tem que ser. Mas não confundamos discriminação com discordância, pois, ao meu ver, ninguém deve ser obrigado na sociedade a concordar com tudo, somos livres para pensar e acreditar no que quisermos, desde que respeitemos e saibamos conviver em sociedade.

Ventos favoráveis à direita

Dado o contexto da alavancada do candidato do PSL, chegamos ao ponto principal deste tópico, que é a soma de fatores positivos para a vitória de uma candidatura de centro direita, com o crescimento do empreendedorismo, ciclo de commodities em alta desde 2016, apoio da população a um governo que tenha esse viés mais pró-mercado. Enfim, o ambiente era perfeito para o candidato do PSDB vencer, pois possuía o apoio do centrão e o maior tempo de televisão. O que não estava no roteiro era o fato de que as coisas mudaram, a democratização da Internet e o repúdio do povo aos políticos que trocam votos por ministérios ou emendas ou outros interesses particulares cresceu vertiginosamente. Então voltando a analogia que foi feita entre PT e BRF, no caso da direita brasileira (ao contrário da esquerda), ela possui o melhor cenário, uma empresa com todos os ventos favoráveis: a câmara apesar de ter muitos deputados do PT também possui muitos do PSL, e muitas outras bancadas de partidos que tendem a ser mais liberais no sentido econômico; o senado tem maioria do MDB (que nunca foi muito difícil de convencer, basta dizer que você está no poder e eles apoiam); e o principal, a população escolheu esses representantes, o que, pelo menos, em teoria, é um sinal que o país quer um governo mais liberal, mais preocupado na eficiência e no mérito que no preparo de um ambiente que proporcione condições de igualdade e ajuda aos mais necessitados.
Em tese, um candidato mais podado e com viés de direita como Geraldo Alckmin traria mais segurança às pessoas no sentido de ter uma história política respeitada (sendo várias vezes governador do maior estado do país) e um comportamento mais previsível, tranquilo, metódico e linear (quase o completo oposto de Bolsonaro). E por que não Alckmin (inclusive, este era o candidato do mercado, que logo mudou para Bolsonaro quando viram que o PSDB não teria forças para chegar ao segundo turno)? Pelos motivos explicados acima, apenas o candidato do PSL conseguiu reunir os anseios de vários grupos da população, juntando a repulsa pela corrupção (e o rancor contra o PT) na parte política e o conservadorismo característico à cultura brasileira na parte social.

Sobre Política e Investimentos: Parte 3

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