terça-feira, 23 de outubro de 2018

Sobre Política e Investimentos: Parte 3

Semelhanças e diferenças… 
Parte 3

Apresentados os candidatos, façamos agora uma breve análise dos possíveis impactos negativos e positivos com base no passado, presente, contexto e ambiente interno e internacional, seus capitais políticos e a até que ponto podemos confiar nos candidatos.

Riscos (pior cenário): Haddad

Com o isolamento do PT, seu capital político ficou comprometido. Além do mais, a necessidade de mudança por parte do povo já foi mostrada no congresso e no senado. O que poderá acontecer então caso Haddad vença as eleições? No pior cenário pode acontecer um novo impechment provocado (se isso acontecer, ao contrário do que já ouvi dizerem por aí, que a vice do Haddad assumiria, isso é totalmente impossível. Aconteceu com Temer porque ele tinha muita influência política, mas Manuela D’avila não teria como se manter nem um segundo a mais no poder pois não tem nem 10% do capital político que Temer tinha quando Dilma sofreu o impeachment), e dessa vez não precisa nem de pautas bombas, pois com a lei do teto dos gastos qualquer deslize e o próximo presidente vira mais uma Dilma Rousseff. No entanto, dada a grave situação fiscal do país e o aprendizado com os erros (alguns inclusive admitidos pelos rivais, como na entrevista que Tasso Jereissati deu em setembro deste ano), além da própria pele em risco dos deputados e senadores que certamente não gostariam de ficarem marcados por colapsar o Brasil, não acredito que ocorrerá novamente uma sabotagem por parte do congresso (até porque também, Haddad já mostrou ter um perfil bem diferente de Dilma na comunicação política, e já conquistou até admiradores de outros partidos que demonstraram respeito pelo seu trabalho, além do apoio externo que vem recebendo constantemente).

Riscos (pior cenário): Bolsonaro

Como citado durante a descrição do perfil do candidato do PSL, ele é uma pessoa que muda de ideia com certa frequência, perfil autoritário, é militar com simpatia declarada pela ditadura. O que podemos esperar de alguém com esse perfil caso as coisas não saiam como ele planejou? O risco de uma ditadura (caso os militares, cuja maioria certamente votou nele, decidam por apoiá-lo) ou de um golpe militar (o vice-presidente inclusive tem patente maior que a do capitão Bolsonaro e já demonstrou opiniões tanto e até mais polêmicas que o próprio candidato à presidência do PSL) não pode ser desprezado. No entanto, assim como no caso do candidato do PT, também não acredito que este cenário tenha mais de 50% de chances de acontecer, visto que o PSL conta com bastante deputados e muitos prováveis aliados para permitir que as decisões sejam tomadas de forma democrática, como se espera.

Potencial de Upside: Haddad

No mercado, o potencial de upside é quanto se espera que determinado ativo possa subir, ou seja, o retorno máximo esperado. Para o candidato petista este potencial é limitado pelos motivos já citados anteriormente. Ainda com o antipetismo para contornar, Haddad teria que mostrar bom traquejo político e trazer para seu lado o centrão. No entanto, não é algo impossível ou extremamente difícil conseguir, mas depende muito das novas alianças que serão formadas e a compatibilidade de ideias que o PT defende com as que a nova câmara adotará.

Potencial de Upside: Bolsonaro

Para Bolsonaro, basta o mínimo de traquejo político, de poder de convencimento para trazer a maioria para seu lado (o antipetismo se disseminou além do partido, e a própria esquerda também vem sofrendo ataques constantes). No entanto, o candidato do PSL já deu a entender que não irá trocar ministérios por alianças, e nem votos por emendas parlamentares. Caso ele realmente faça isso, o cenário muda, as chances de conseguir fazer um bom governo diminuem, e as chances do pior cenário para Bolsonaro aumentam. As perguntas que ficam são: Ele fará o que disse? O congresso mudou tanto a ponto de não trocar mais favores (dinheiro e poder por alianças e votos)? O que eu acho é que o congresso não mudou tanto assim a esse ponto, e que Bolsonaro negociará sim com os parlamentares (prefiro ser otimista).

Deixar o dinheiro em conta-corrente (ou Tesouro SELIC) ou aplicar em Bitcoin?

Após ler esse texto razoavelmente longo, a pergunta que fica a você leitor e eleitor que se deu ao trabalho de ler até o final é a seguinte: Imagine que você tem 20 anos e estamos em 1988. Você acaba de se formar, e conseguiu o primeiro emprego, o qual você manteve durante longos 30 anos até o dia de hoje (imagine que em média ganhou o equivalente de hoje a R$ 4.000,00 por mês). Durante esse tempo você abriu mão de muitas coisas na vida para economizar R$ 1.000,00 por mês, para aos 50 anos se aposentar (vamos esquecer a inflação por enquanto e considerar que você não investiu, apenas guardou debaixo do colchão o dinheiro). Hoje você teria R$ 360.000,00 para investir em algo que pudesse lhe garantir um futuro melhor (nem é taaanto dinheiro assim, mas já dá pra ter sonhos maiores do que a maioria das pessoas), e ser útil a seus futuros herdeiros. Mas existe um porém, só temos hoje as 3 seguintes opções (sendo que aquela que você escolher todo seu capital será aplicado nela): transferir o dinheiro para conta-corrente de um banco (afinal é mais seguro que seu colchão, pelo menos em teoria), deixar na renda fixa, ou aplicar em Bitcoin. Qual investimento você escolheria para depositar todo seu dinheiro, economizado com muito esforço durante longos 30 anos?
A meu ver, nossa situação hoje é semelhante a essa. Fazendo uma analogia com investimentos, votar em Fernando Haddad seria o equivalente a deixar todo seu dinheiro na conta-corrente do banco (no pior cenário) ou investir no Tesouro Selic (no melhor cenário), que atualmente está em seu menor patamar a 6,5%. Faço essa comparação devido ao caráter relativamente previsível do candidato petista, bem como por causa das dificuldades que poderá encontrar, mas acredito que consiga fazer o país andar nesse ritmo.

Já no caso de votar em Jair Bolsonaro seria o equivalente a aplicar todo seu dinheiro em Bitcoin. Muito volátil e imprevisível, as pessoas ainda estão tentando entender o potencial, os benefícios e as possíveis fraudes por trás. Se o cenário for favorável, pode dar muito certo, o país expandir com altas taxas de crescimento, pagar parte da dívida pública, gerar muitos empregos... Mas em compensação se o cenário for contrário, você não perde aos poucos para a inflação durante quatro anos como no caso do Haddad, você perde tudo o que conquistou durante 30 anos de uma vez só. E agora não estou mais falando dos R$ 360.000,00 mas sim da democracia e da estabilidade política e econômica que levamos tanto tempo para conquistar.

Em relação a investimentos, não existe certo ou errado, o que existe é risco (muito ou pouco arriscado). Não estou dizendo para votarem em Haddad ou Bolsonaro, quem decide seu portfólio é o próprio investidor e seu perfil de risco para se expor mais, ou menos, à possíveis perdas. A ideia desse artigo foi passar para o leitor uma visão de política e de investimentos, comparando e fazendo analogias entre elas para permitir que você entenda os assuntos em um ponto de vista diferenciado. Espero que você reflita sobre os pontos positivos e negativos apresentados ao longo do texto, e que tenha coerência no momento do voto. Não vote com a emoção, pense, reflita, analise e faça a melhor escolha com base em seus critérios, na sua visão dos candidatos e dos partidos, e por que não com base em critérios de risco e potencial de upside (como mostrado no artigo)? Espero ter ajudado, bom segundo turno e continuemos na torcida por um país melhor independente de quem vencer as eleições.

Algumas Referências

Sobre Política e Investimentos: Parte 2

Semelhanças e diferenças… 
Parte 2

Análise Política (para investir no melhor candidato a presidência: Haddad ou Bolsonaro?)

Feita esta rápida introdução sobre algumas das principais diferenças e semelhanças entre os mundos político e de investimentos, nos tópicos a seguir (Parte 2 e Parte 3) farei uma breve análise política com base em algumas técnicas de investimento onde entenderemos melhor o contexto (Parte 2), os riscos e os potenciais de cada candidato (Parte 3). E no fim, para efeito de comparação, faço uma analogia entre quais seriam os investimentos correspondentes a cada candidato (Parte 3).

Haddad: o cara certo no lugar errado

Excelente gestor (criou o ProUni, o PIBID, o SiSU, reformulou o FIES e o ENEM, triplicou o orçamento do ministério da educação na sua gestão entre 2006 e 2012, e conseguiu manter o caixa de R$ 2,5 bilhões na prefeitura de São Paulo em seu mandato de 2013 a 2016 onde o Brasil passou por aquela que muitos dizem ser a pior crise de nossa história. Nesses 4 anos por exemplo, o PIB do país encolheu 5%) e no mínimo um dos melhores ministros da educação que o país já teve. Assim apresento Fernando Haddad, bacharel em direito, mestre em economia e doutor em filosofia (currículo impecável, pois reúne as áreas de estudo que a meu ver tem mais impacto na administração pública). Além disso, até hoje não teve seu nome envolvido nos esquemas de corrupção do PT que tanto geraram a revolta que vemos e o antipetismo declarado abertamente por muitos (o próprio adversário, Jair Bolsonaro, ao tentar atingir o ex-prefeito de São Paulo referiu-se a ele apenas como “fantoche de corrupto”).

Assim, o que podemos falar para estragar a reputação de Haddad (homem de família, casado há mais de 30 anos, pai de um casal de filhos, professor de universidade)? “Dize-me como quem andas, e te direi quem és”. A meu ver, Haddad é o cara certo no lugar errado. Recentemente, até históricos rivais do PSDB (que rivaliza com o PT durante as últimas eleições desde os tempos de FHC) entregaram-lhe uma carta de “apoio e apreço” em um almoço para conversar sobre política e as recentes ondas de violência decorrentes da eleição (quem sabe não foi uma sondagem para futura candidatura, no partido que reúne uma ala intelectual socialista e outra ala mais elitista empresarial, que recentemente passa por renovação e debates internos intensos entre elas. O PT também possui uma ala intelectual socialista, mas com diferenças significativas, sendo a ala do PT mais prática e a do PSDB mais teórica).

Voltando às comparações entre empresas e partidos, comparo o candidato do PT a um excelente CEO, mas trabalhando em uma empresa com a reputação abalada. Diria que o partido se assemelha com a BRF (empresa que surgiu da fusão de duas gigantes do segmento de Carnes e Derivados: Perdigão e Sadia). Eram duas empresas relativamente grandes, que cresceram muito durante certo tempo, mas hoje está enfrentando muitos problemas relacionados à fraude, suborno, custos elevados, aumento de impostos em países clientes, entre muitos outros problemas. Assim, o PT, partido relativamente grande, conseguiu chegar ao poder e obteve excelentes resultados em oito anos de governo Lula (ciclo das commodities e contexto internacional também ajudaram bastante). Depois veio o governo Dilma (e com a “sorte” contrária, enfrentou períodos conturbados de mercado externo, com petróleo, minério de ferro e celulose negociados a preços muito abaixo do normal). Além do contexto externo, o contexto interno também não ajudou muito a ex-presidenta (pautas bombas e falta de articulação política / jogo de cintura que sobravam no ex-presidente Lula, agora eram escassos nos outros cinco anos e alguns meses de Dilma). Do céu ao inferno o PT chegou ao fundo do poço com os escândalos de corrupção e a gestão controversa de Dilma que resultou no impeachment (ou golpe para alguns). Agora, assim como Pedro Parente (atual CEO da BRF), Fernando Haddad tenta pegar o que sobrou depois da tempestade e reconstruir um partido que assumiu o poder com muita desconfiança, virou o jogo e ganhou muita credibilidade, e depois desandou até chegar naquilo que vemos hoje, uma entidade criticada fortemente e que muitos não suportam e não toleram a hipótese de quem sabe este partido assumir novamente o poder por mais quatro anos.

Bolsonaro: o cara errado no lugar certo

Militar da reserva, deputado federal durante 28 anos, divorciado, pai de quatro filhos e uma filha. Nos anos de deputado ficou conhecido por suas opiniões polêmicas, com uma visão populista de extrema-direita, tendo declarado simpatia a ditadura militar, que segundo ele não aconteceu (maioria dos historiadores discorda) e defendido práticas de tortura (inclusive, durante a votação do impechment de Dilma Rousseff homenageou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-Codi e acusado de comandar tortura durante o regime militar). Além das opiniões controversas, também esteve envolvido no suposto planejamento de explodir bombas de baixa potência em banheiros da Vila Militar, da Academia Militar dos Agulhas Negras, em protestos contra o baixo salário na época (foi absolvido pelo Supremo Tribunal Militar, após laudo da Polícia do Exército apontar provas documentais insuficientes. Mais tarde, foi confirmada pela Polícia Federal a caligrafia de Bolsonaro no esquema do plano de ataque à rede de abastecimento de água do Rio de Janeiro).

Sem dúvida, um homem polêmico e instável, diferente do perfil que estamos habituados a ver nos últimos anos (no segundo turno, como esperado, passou a ter um discurso mais inclinado ao centro do espectro político, assim como seu rival político Fernando Haddad). Mas então o que fazer para estragar a reputação de Bolsonaro? Nada!!! Ele é o candidato que soube, assim como Donald Trump, instigar na população o sentimento de mudança e revolta contra o status quo (o próprio PT também ajudou), ressaltar na sociedade o sentimento de revolta por parte da população mais conservadora do ponto de vista da “moral e bons costumes”, além de criar notícias falsas para manipular os eleitores (não estou acusando os candidatos exatamente, mas alguém o fez, ou seus aliados ou eles próprios). E como que uma estratégia que resultou na violência e na ira de alguns de seus eleitores e em mentiras contra seu adversário (o TSE já reconheceu e mandou retirar notícias falsas sobre o candidato do PT recentemente, mas aparentemente tarde demais visto que os resultados das mentiras já foram alcançados) está dando certo?

O antipetismo e o choque de cultura

A resposta, aparentemente se deve a 2 fatores principais: o antipetismo e o choque de cultura provocado pelas ideologias. O antipetismo surgiu da revolta com os escândalos de corrupção e da falta de humildade do partido em reconhecer alguns erros que cometeu principalmente durante a gestão de Dilma, que somados àqueles que sempre odiaram o PT, e ao movimento de direita jovem (a onda de incentivar o empreendedorismo e a meritocracia, de criticar os servidores públicos (como se todos fossem corruptos e recebessem altos salários) e as instituições públicas (os problemas existem, mas em boa parte dos casos é muito mais por questões técnicas/burocráticas que por falta de comprometimento como a maioria pensa)) resultaram no movimento anti PT. 

Já o choque de cultura provocado pelas ideologias é um fenômeno que está sendo estudado, e pelo que aparenta, ele tem provocado o apoio a líderes que falam aquilo que o senso comum diz, esquecendo o politicamente correto e voltando às raízes que estão entranhadas em nossa cultura, e que dificilmente serão removidas tão rapidamente quanto seus idealizadores gostariam. A cultura de um povo, achemos nós ela boa ou ruim, moral ou imoral, ou qualquer outro juízo de valor que possamos fazer, só muda com o tempo, depois de muito diálogo, muita educação, muito respeito. Se não for assim, na força, frente a frente, duas propostas distintas tendem a gerar conflitos muito maiores. Questões como preconceito racial (sempre existiu, e lá se vai mais de século da abolição no Brasil e continua existindo), preconceito de gênero (as mulheres e as pessoas que passaram por transformações físicas sofrem com isso provavelmente desde sempre), preconceito sexual (a história mostra que ele aparece e desaparece várias vezes, ora com a sociedade mais rígida e hora com ela mais liberal), entre muitos outros, tem que ser trabalhados nas escolas, no dia a dia da sociedade, no trabalho e em todos os lugares. O que ao meu ver não se deve fazer é impor a aceitação e o entendimento a uma cultura que não está preparada para isso. O que se pode fazer é incentivar o respeito e a discordância saudável, não precisamos pensar igual, podemos não entender determinadas coisas. O que não podemos é discriminar alguém porque essa pessoa é diferente daquilo que você (ou sua cultura, ou sua religião, ou sua ideologia) acredita que ela tem que ser. Mas não confundamos discriminação com discordância, pois, ao meu ver, ninguém deve ser obrigado na sociedade a concordar com tudo, somos livres para pensar e acreditar no que quisermos, desde que respeitemos e saibamos conviver em sociedade.

Ventos favoráveis à direita

Dado o contexto da alavancada do candidato do PSL, chegamos ao ponto principal deste tópico, que é a soma de fatores positivos para a vitória de uma candidatura de centro direita, com o crescimento do empreendedorismo, ciclo de commodities em alta desde 2016, apoio da população a um governo que tenha esse viés mais pró-mercado. Enfim, o ambiente era perfeito para o candidato do PSDB vencer, pois possuía o apoio do centrão e o maior tempo de televisão. O que não estava no roteiro era o fato de que as coisas mudaram, a democratização da Internet e o repúdio do povo aos políticos que trocam votos por ministérios ou emendas ou outros interesses particulares cresceu vertiginosamente. Então voltando a analogia que foi feita entre PT e BRF, no caso da direita brasileira (ao contrário da esquerda), ela possui o melhor cenário, uma empresa com todos os ventos favoráveis: a câmara apesar de ter muitos deputados do PT também possui muitos do PSL, e muitas outras bancadas de partidos que tendem a ser mais liberais no sentido econômico; o senado tem maioria do MDB (que nunca foi muito difícil de convencer, basta dizer que você está no poder e eles apoiam); e o principal, a população escolheu esses representantes, o que, pelo menos, em teoria, é um sinal que o país quer um governo mais liberal, mais preocupado na eficiência e no mérito que no preparo de um ambiente que proporcione condições de igualdade e ajuda aos mais necessitados.
Em tese, um candidato mais podado e com viés de direita como Geraldo Alckmin traria mais segurança às pessoas no sentido de ter uma história política respeitada (sendo várias vezes governador do maior estado do país) e um comportamento mais previsível, tranquilo, metódico e linear (quase o completo oposto de Bolsonaro). E por que não Alckmin (inclusive, este era o candidato do mercado, que logo mudou para Bolsonaro quando viram que o PSDB não teria forças para chegar ao segundo turno)? Pelos motivos explicados acima, apenas o candidato do PSL conseguiu reunir os anseios de vários grupos da população, juntando a repulsa pela corrupção (e o rancor contra o PT) na parte política e o conservadorismo característico à cultura brasileira na parte social.

Sobre Política e Investimentos: Parte 3

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Sobre Política e Investimentos: Parte 1

Faltando uma semana para o segundo turno das eleições para presidente que acontecerá no dia 28/10/2018, trago a vocês o primeiro texto do Pensamento Solto, para refletirmos sobre o cenário político atual e aprendermos um pouco sobre investimentos.

Este artigo tem por objetivo provocar reflexão ao leitor. Fazer você pensar de um ponto de vista analítico e comparativo enquanto aprende um pouco sobre política e investimentos. Nesta primeira parte abordarei algumas questões principais que permitem fazermos comparações entre semelhanças e diferenças de Política e Investimentos. Na segunda parte teremos uma breve análise política com base em algumas técnicas de investimento, e finalmente na terceira parte abordaremos os riscos e potenciais de cada candidato à presidência. Boa leitura!!!

Semelhanças e diferenças… 
Parte 1

Expectativas

Na política e nos investimentos (e em muitas outras situações na vida), uma das coisas mais difíceis de entender e aplicar é saber a dosagem da melhor relação entre passado, presente e futuro para fazer a escolha mais sensata. Não podemos esquecer o passado, pois ele nos revela o que foi feito de bom ou ruim, o valor que foi gerado (ou perdido), as características que podemos esperar com base nas lições aprendidas pelo sujeito (empresa, gestor, partido, candidato). Não podemos ignorar o presente, pois ele nos mostra com quem estamos lhe dando agora, quais as ideias atuais (pois o passado nem sempre reflete o presente, as coisas mudam com o tempo) e nos direciona melhor para o que podemos esperar (considerando que essas ideias atuais são verdadeiras). E o mais difícil, temos que imaginar, com base no passado, no presente, no contexto e no ambiente, usando nossas premissas a respeito das nossas experiências de vida para tentar entender pelo menos em parte o que nos reserva o futuro (no caso da política, os próximos 4 anos, nos investimentos dependendo do perfil do investidor, até décadas).

Com certeza não é tão fácil assim fazer escolhas para prazos longos, principalmente no mundo de hoje tão integrado, dinâmico e volátil. Casar ou ficar solteiro, ter filhos ou não ter, gastar o dinheiro hoje ou investir para o futuro, são decisões difíceis, mas comuns na vida da maioria das pessoas. Escolher o candidato para presidente, governador, senador, deputado estadual e federal, prefeito, vereador… Também são decisões muito difíceis, e todas essas escolhas podem mudar sua vida, seu futuro. Como disse no parágrafo anterior, o passado, o presente, o contexto e o ambiente são os principais itens que precisamos entender para cogitar quem seremos e onde estaremos amanhã. E por mais que muitas vezes nós ignoremos um pouco a política (realmente foi muito difícil acompanhar o noticiário sobre corrupção nos jornais e na internet nos últimos anos), é através dela que se define as regras do “jogo da vida”. Tanto no âmbito pessoal/social quanto político, nossas escolhas definem nosso futuro.

Ambas não são apenas um retrato do que se tem (e do que passou), mas uma expectativa do que podemos vir a ter. O presente e o passado servem de parâmetro, e de base para análise, mas o que se analisa de fato é como será o desempenho no futuro.

Alocação de Capital

Tanto na política quanto nos investimentos ocorre a alocação de capital. Na primeira o capital é político e diz respeito à capacidade de articulação, engajamento e encaminhamento das propostas rumo a determinado caminho desejado pelos políticos eleitos (que em teoria são compatíveis com os anseios da população). Na segunda o capital é financeiro e refere-se a distribuição dos ativos que se tem em um portfólio (conjunto de ativos) equilibrado (ou não) visando aumento (ou manutenção) de patrimônio.

A política tem a desvantagem de concentração de capital, pois muitos interesses de vários aspectos (sociais, econômicos, ideológicos, etc.) afunilam para concentrarem-se em um candidato. Democracia ou família? Abaixo a corrupção ou abaixo a ditadura? Questões culturais, comportamentais, direitos humanos, justiça social, entre tantas outras, dificilmente concordamos completamente com um candidato. E isso acaba sendo muito ruim, pois se concordo em um aspecto com determinado candidato e discordo em outro, tenho que escolher o que é mais importante (e para um cidadão pleno, todos os aspectos citados são importantes). Já os investimentos têm a vantagem da alocação de capital financeiro permitir por parte do investidor abrir mão de mais rigor, ou esperar que o ativo se adapte às suas exigências (indicadores de desempenho e qualidade, fundo de garantia e seguro, rentabilidade e prazo, etc.), ou simplesmente não investir, deixando o dinheiro apenas guardado (no lado político seria o equivalente ao voto nulo, onde você não está disposto a ganhar ou perder aquela quantia de forma ativa, mas de forma passiva está exposto aos resultados). Além do mais, nos investimentos podemos deixar as escolhas para depois, na política as decisões têm data marcada. O impacto das suas escolhas nos investimentos afeta na maioria das vezes apenas você e seu patrimônio, mas o impacto do seu voto pode mudar o rumo de uma nação.

Em um portfólio equilibrado posso adicionar e retirar ativos conforme as condições atuais e minhas expectativas sobre o futuro destes. Posso compor minha carteira com 5% de ativos de alta volatilidade, mesclado com 95% de baixa volatilidade, e quando bem entender inverter as proporções. Eu controlo o tempo e as características de modo a trazer mais valor para meu patrimônio como um todo. Na política é preciso escolher apenas um candidato (na maioria das vezes, pois para senador, salvo engano, são permitidos 2 votos), e que de preferência concorde com você em tudo. É possível escolher o mesmo partido nos vários níveis da administração pública, ou a mesma corrente de pensamento (direita ou esquerda, conservador ou liberal, a favor ou contra benefícios sociais como previdência e bolsas, a favor ou contra privatizações, etc), mas mesmo assim, em algum nível provavelmente haverá um candidato que pensa muito diferente de você em algum aspecto. E isso nos leva ao próximo tópico.

Delegação de confiança

Os dois se assemelham a uma procuração (que entregamos aos partidos e seus candidatos, e às empresas e seus funcionários). Aos partidos damos poderes em troca dos votos, e às empresas confiamos nosso dinheiro em troca de seus ativos (confiamos em sua gestão, no planejamento e execução de seus planos para gerarem valor ao investidor). Confiar é a palavra-chave. Particularmente, muitas vezes, tenho dificuldades em confiar até em pessoas com quem convivo, imagina confiar em alguém que você verá a cada quatro anos (no caso de políticos) ou em pessoas que talvez você nunca veja pessoalmente (responsáveis pelas empresas).

Acreditar nas pessoas, nas empresas, nos partidos e nas instituições públicas é algo muito difícil depois de tudo que nós passamos no Brasil na última década. Mas na vida em sociedade precisamos confiar e delegar, pois sempre dependeremos de outros para nos ajudar a cuidar do todo, cada um fazendo sua parte. É importante questionar, ter pensamento crítico e analítico, isso é ótimo. Mas atualmente muitas pessoas já passaram do ponto ideal e saudável de questionamento para teorias da conspiração, manipulações da verdade (viés onde só se encaixam peças que corroborem com suas crenças) e culminam com as notícias falsas (não estou falando só de política não, nas empresas ocorrem os mesmos problemas de teorias, manipulações e mentiras).

Quando não confiamos tudo fica incerto. E mais uma vez a política e os investimentos apresentam características distintas. A incerteza nos investimentos pode ser contornada com a diversificação dos ativos em vários setores, aproveitando os ciclos econômicos e aumentando a exposição a produtos que estejam em tendência ou com boa oportunidade devido ao exagero das expectativas negativas do mercado. Já a incerteza política é muito mais complicada, pois trata-se de um cheque em branco nas mãos de um “desconhecido”. Confiar nas mesmas pessoas por quatro longos anos que podem mudar o destino de muitos.

Ambas possuem muitas incertezas relacionadas principalmente à gestão por parte de terceiros, a quem delegamos as responsabilidades.

O que devemos fazer então? Iniciar uma revolução? Fechar o congresso e começar uma ditadura? Fazer auditorias contábeis constantes nas empresas? Nós mesmos cuidarmos dos problemas indo pessoalmente investigar (já que não confiamos mais em ninguém)? A resposta que acredito é a criação de cidadãos conscientes, honestos, com pensamento reflexivo e uma imensa vontade de descobrir a “verdade” (tentar entender as partes, analisar com empatia, bom senso e justiça). Pouquíssimos estão interessados em entender o outro lado da história e entender o contexto dos fatos, muitos estão apenas querendo mostrar que estão certos (mesmo que estejam errados). Por isso concordo com o filósofo chinês Confúcio quando ele diz:

Um ser superior pensa no que é certo, um ser comum pensa no que pode tirar vantagem para si. Um ser superior exige muito de si, um ser comum exige muito dos outros. Um ser superior aceita seu fardo com serenidade, um ser comum está sempre cheio de reclamações. (Confúcio)