segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Sobre Política e Investimentos: Parte 1

Faltando uma semana para o segundo turno das eleições para presidente que acontecerá no dia 28/10/2018, trago a vocês o primeiro texto do Pensamento Solto, para refletirmos sobre o cenário político atual e aprendermos um pouco sobre investimentos.

Este artigo tem por objetivo provocar reflexão ao leitor. Fazer você pensar de um ponto de vista analítico e comparativo enquanto aprende um pouco sobre política e investimentos. Nesta primeira parte abordarei algumas questões principais que permitem fazermos comparações entre semelhanças e diferenças de Política e Investimentos. Na segunda parte teremos uma breve análise política com base em algumas técnicas de investimento, e finalmente na terceira parte abordaremos os riscos e potenciais de cada candidato à presidência. Boa leitura!!!

Semelhanças e diferenças… 
Parte 1

Expectativas

Na política e nos investimentos (e em muitas outras situações na vida), uma das coisas mais difíceis de entender e aplicar é saber a dosagem da melhor relação entre passado, presente e futuro para fazer a escolha mais sensata. Não podemos esquecer o passado, pois ele nos revela o que foi feito de bom ou ruim, o valor que foi gerado (ou perdido), as características que podemos esperar com base nas lições aprendidas pelo sujeito (empresa, gestor, partido, candidato). Não podemos ignorar o presente, pois ele nos mostra com quem estamos lhe dando agora, quais as ideias atuais (pois o passado nem sempre reflete o presente, as coisas mudam com o tempo) e nos direciona melhor para o que podemos esperar (considerando que essas ideias atuais são verdadeiras). E o mais difícil, temos que imaginar, com base no passado, no presente, no contexto e no ambiente, usando nossas premissas a respeito das nossas experiências de vida para tentar entender pelo menos em parte o que nos reserva o futuro (no caso da política, os próximos 4 anos, nos investimentos dependendo do perfil do investidor, até décadas).

Com certeza não é tão fácil assim fazer escolhas para prazos longos, principalmente no mundo de hoje tão integrado, dinâmico e volátil. Casar ou ficar solteiro, ter filhos ou não ter, gastar o dinheiro hoje ou investir para o futuro, são decisões difíceis, mas comuns na vida da maioria das pessoas. Escolher o candidato para presidente, governador, senador, deputado estadual e federal, prefeito, vereador… Também são decisões muito difíceis, e todas essas escolhas podem mudar sua vida, seu futuro. Como disse no parágrafo anterior, o passado, o presente, o contexto e o ambiente são os principais itens que precisamos entender para cogitar quem seremos e onde estaremos amanhã. E por mais que muitas vezes nós ignoremos um pouco a política (realmente foi muito difícil acompanhar o noticiário sobre corrupção nos jornais e na internet nos últimos anos), é através dela que se define as regras do “jogo da vida”. Tanto no âmbito pessoal/social quanto político, nossas escolhas definem nosso futuro.

Ambas não são apenas um retrato do que se tem (e do que passou), mas uma expectativa do que podemos vir a ter. O presente e o passado servem de parâmetro, e de base para análise, mas o que se analisa de fato é como será o desempenho no futuro.

Alocação de Capital

Tanto na política quanto nos investimentos ocorre a alocação de capital. Na primeira o capital é político e diz respeito à capacidade de articulação, engajamento e encaminhamento das propostas rumo a determinado caminho desejado pelos políticos eleitos (que em teoria são compatíveis com os anseios da população). Na segunda o capital é financeiro e refere-se a distribuição dos ativos que se tem em um portfólio (conjunto de ativos) equilibrado (ou não) visando aumento (ou manutenção) de patrimônio.

A política tem a desvantagem de concentração de capital, pois muitos interesses de vários aspectos (sociais, econômicos, ideológicos, etc.) afunilam para concentrarem-se em um candidato. Democracia ou família? Abaixo a corrupção ou abaixo a ditadura? Questões culturais, comportamentais, direitos humanos, justiça social, entre tantas outras, dificilmente concordamos completamente com um candidato. E isso acaba sendo muito ruim, pois se concordo em um aspecto com determinado candidato e discordo em outro, tenho que escolher o que é mais importante (e para um cidadão pleno, todos os aspectos citados são importantes). Já os investimentos têm a vantagem da alocação de capital financeiro permitir por parte do investidor abrir mão de mais rigor, ou esperar que o ativo se adapte às suas exigências (indicadores de desempenho e qualidade, fundo de garantia e seguro, rentabilidade e prazo, etc.), ou simplesmente não investir, deixando o dinheiro apenas guardado (no lado político seria o equivalente ao voto nulo, onde você não está disposto a ganhar ou perder aquela quantia de forma ativa, mas de forma passiva está exposto aos resultados). Além do mais, nos investimentos podemos deixar as escolhas para depois, na política as decisões têm data marcada. O impacto das suas escolhas nos investimentos afeta na maioria das vezes apenas você e seu patrimônio, mas o impacto do seu voto pode mudar o rumo de uma nação.

Em um portfólio equilibrado posso adicionar e retirar ativos conforme as condições atuais e minhas expectativas sobre o futuro destes. Posso compor minha carteira com 5% de ativos de alta volatilidade, mesclado com 95% de baixa volatilidade, e quando bem entender inverter as proporções. Eu controlo o tempo e as características de modo a trazer mais valor para meu patrimônio como um todo. Na política é preciso escolher apenas um candidato (na maioria das vezes, pois para senador, salvo engano, são permitidos 2 votos), e que de preferência concorde com você em tudo. É possível escolher o mesmo partido nos vários níveis da administração pública, ou a mesma corrente de pensamento (direita ou esquerda, conservador ou liberal, a favor ou contra benefícios sociais como previdência e bolsas, a favor ou contra privatizações, etc), mas mesmo assim, em algum nível provavelmente haverá um candidato que pensa muito diferente de você em algum aspecto. E isso nos leva ao próximo tópico.

Delegação de confiança

Os dois se assemelham a uma procuração (que entregamos aos partidos e seus candidatos, e às empresas e seus funcionários). Aos partidos damos poderes em troca dos votos, e às empresas confiamos nosso dinheiro em troca de seus ativos (confiamos em sua gestão, no planejamento e execução de seus planos para gerarem valor ao investidor). Confiar é a palavra-chave. Particularmente, muitas vezes, tenho dificuldades em confiar até em pessoas com quem convivo, imagina confiar em alguém que você verá a cada quatro anos (no caso de políticos) ou em pessoas que talvez você nunca veja pessoalmente (responsáveis pelas empresas).

Acreditar nas pessoas, nas empresas, nos partidos e nas instituições públicas é algo muito difícil depois de tudo que nós passamos no Brasil na última década. Mas na vida em sociedade precisamos confiar e delegar, pois sempre dependeremos de outros para nos ajudar a cuidar do todo, cada um fazendo sua parte. É importante questionar, ter pensamento crítico e analítico, isso é ótimo. Mas atualmente muitas pessoas já passaram do ponto ideal e saudável de questionamento para teorias da conspiração, manipulações da verdade (viés onde só se encaixam peças que corroborem com suas crenças) e culminam com as notícias falsas (não estou falando só de política não, nas empresas ocorrem os mesmos problemas de teorias, manipulações e mentiras).

Quando não confiamos tudo fica incerto. E mais uma vez a política e os investimentos apresentam características distintas. A incerteza nos investimentos pode ser contornada com a diversificação dos ativos em vários setores, aproveitando os ciclos econômicos e aumentando a exposição a produtos que estejam em tendência ou com boa oportunidade devido ao exagero das expectativas negativas do mercado. Já a incerteza política é muito mais complicada, pois trata-se de um cheque em branco nas mãos de um “desconhecido”. Confiar nas mesmas pessoas por quatro longos anos que podem mudar o destino de muitos.

Ambas possuem muitas incertezas relacionadas principalmente à gestão por parte de terceiros, a quem delegamos as responsabilidades.

O que devemos fazer então? Iniciar uma revolução? Fechar o congresso e começar uma ditadura? Fazer auditorias contábeis constantes nas empresas? Nós mesmos cuidarmos dos problemas indo pessoalmente investigar (já que não confiamos mais em ninguém)? A resposta que acredito é a criação de cidadãos conscientes, honestos, com pensamento reflexivo e uma imensa vontade de descobrir a “verdade” (tentar entender as partes, analisar com empatia, bom senso e justiça). Pouquíssimos estão interessados em entender o outro lado da história e entender o contexto dos fatos, muitos estão apenas querendo mostrar que estão certos (mesmo que estejam errados). Por isso concordo com o filósofo chinês Confúcio quando ele diz:

Um ser superior pensa no que é certo, um ser comum pensa no que pode tirar vantagem para si. Um ser superior exige muito de si, um ser comum exige muito dos outros. Um ser superior aceita seu fardo com serenidade, um ser comum está sempre cheio de reclamações. (Confúcio)

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